Cursos no interior do Amazonas incentivam produção de látex da seringueira

Manter a floresta em pé impacta na conservação do meio ambiente e nas comunidades que vivem na região e dependem financeiramente dela para sobreviver. Elaborado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o estudo “Dinamismo de emprego e renda na Amazônia Legal: agropecuária” conclui que o desmatamento provoca a redução de empregos na chamada “Amazônia Legal”, cuja área de abrangência corresponde a cerca de 58,9% do território brasileiro.

Para manter a sustentabilidade da floresta e dos seringueiros que ali vivem, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam), com apoio da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror) e do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), retomou a realização de cursos de formação e reciclagem de seringueiros. O primeiro curso foi realizado de 18 a 20 de agosto na comunidade do Igarapezinho, na zona rural do município de Manicoré, região sul do Amazonas, do qual participaram 33 seringueiros.

Segundo o engenheiro florestal e gerente de apoio a produção florestal não-madeireira do Idam, Luiz Rocha Maciel, os cursos seriam realizados antes, mas a pandemia e o risco de disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) para o interior do Estado levaram à suspensão das atividades. Agora, à medida que a campanha de vacinação avança, as atividades estão sendo retomadas e estão programados mais 10 cursos para seringueiros extrativistas ainda este ano.

“Quando cheguei à comunidade para realizar o curso me deparei com um seringueiro no auge dos seus 95 anos trabalhando junto de seu filho de 65 anos, o neto com seus vinte e poucos anos, e mais um bisneto, e então a gente percebe a importância que tem o esforço para se manter a floresta em pé. São três gerações ganhando o sustento com a seringueira dentro da mata”, conta Maciel. A seringueira é apenas uma das culturas contempladas com a parceria.

Além dela, serão realizadas capacitações para as cadeias do cacau e de óleos vegetais. O conteúdo do curso inclui desde a introdução aos aspectos botânicos da seringueira, aspectos sociais e ambientais, a importância da seringueira e dos seringais, até noções sobre meio ambiente e importância do extrativismo e cultura extrativista da borracha na Amazônia.

Também foram abordados modelos de consórcio que agregam valor à produção, como os sistemas agroflorestais com seringueira, políticas públicas de incentivo à produção de borracha na Amazônia e boas práticas de manejo. “Se bem manejada, a árvore pode produzir por muitos anos na floresta e gerar recurso financeiro para a família toda. Por isso, a importância de se aprender as boas práticas para a produção de látex, como a seleção de árvores, abertura dos caminhos, limpezas dos seringais, equipamentos e ferramentas usadas na sangria, técnicas de sangria, coleta de látex, coagulação, prensagem da borracha, cuidados no armazenamento e comercialização da borracha”, afirma.

 A comercialização da borracha natural produzida pelos seringueiros já está fechada com a francesa Michelin, que possui planta em Manaus para a produção de pneus.

Segundo Maciel, há mais uma empresa interessada no produto. Com atuação muito forte no Acre, a Vert produz calçados com solas feitas de borracha natural da Amazônia. “Nós vamos levar o conhecimento e destacar a importância de se preservar a floresta para as comunidades ribeirinhas.

“O caminho é longo. Usamos avião, barco e canoa. Tem comunidades em que se leva dias para chegar, mas o importante é mostrar o valor da conservação para as comunidades que ali vivem”, finaliza Maciel.

Para Francilene Lisboa Miranda dos Santos, engenheira florestal do Idam, as ações visam dar condições ao seringueiro para que possa ofertar um produto de boa qualidade e receber assim um preço justo.

“A conscientização desses seringueiros ao utilizar os recursos naturais de forma organizada e manejada, resulta na preservação e manutenção da espécie que tem grande importância e valor econômico para esses extrativistas, além do aprimoramento das técnicas de extração já utilizadas por eles que resultam no aumento da produção”, destacou Francilene.

Fonte: Portal Borracha Natural